A <i>nossa</i> América
«Duzentos anos depois, a América Latina que não quer ser o pátio das traseiras dos Estados Unidos está a construir a sua verdadeira independência, está a construir a nossa América, a índio-América fora do controlo dos EUA.» As palavras são de Jaime Cedano, do Partido Comunista da Colômbia, que trouxe às muitas pessoas que se juntaram para assistir ao debate sobre a América Latina uma «saudação desde a dor, a resistência e a esperança».
A iniciativa, que para além da Colômbia contou com a participação de representantes do Brasil (Nilmario Miranda, do PT), Cuba (Lázaro Mujica, do Partido Comunista de Cuba) e El Salvador (Leonel Búcaro, da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional), bem como de Manuela Bernardino e João Ferreira (PCP), era aguardada com natural expectativa dada a conturbada situação que se vive na região.
O golpe de Estado nas Honduras, a vitória da Farabundo Marti em El Savador, as posições nem sempre claras do governo Lula no Brasil, as bases militares norte-americanas na Colômbia e o sempre presente bloqueio a Cuba e à sua revolução, a par da campanha solidária para a libertação dos cinco patriotas cubanos presos nos EUA, justificavam o interesse e davam pano para mangas. O tempo foi escasso, como sempre, mas ainda assim deu para aprofundar o conhecimento da realidade latino-americana e pode dizer-se, sem medo de errar, que se falou mais ali do que se passa no sub-continente do que em todo um ano de «notícias» nos média dominantes.
A parte mais difícil esteve reservada ao brasileiro Nilmario Miranda, que apesar de ter referido os avanços do governo Lula no aprofundamento dos processos de transformação social em curso no Brasil; a cada vez maior ligação com a América Latina, designadamente com a participação na UNASUL (bloco económico, político, cultural e de defesa); e a luta contra o neoliberalismo – que segundo disse «cada um trava à sua maneira» –, não deixou de ser confrontado com perguntas sobre as hesitações e mesmo contradições de Lula tanto a nível da política interna como externa do Brasil.
A complexidade dos processos e a valorização das políticas sociais, invocadas por Miranda, podem não ter convencido os que gostariam de ver o Brasil «mais longe do império», mas há que convir que nada do que se passa no outro lado do Atlântico pode ser abordado de forma linear ou numa perspectiva a preto e branco. Que o digam os camaradas da Colômbia, a braços com o «governo mafioso de Uribe», como lhe chamou Jaime Cedano, que não duvida em dizer que o governo do seu país «representa a 5.ª coluna dos EUA na América Latina».
Denunciando as provocações de Uribe contra a Venezuela e o Equador, a política de terror que se traduz em milhares de mortos e desaparecidos, a ameaça acrescida que representa a instalação de mais sete bases militares norte-americanas na Colômbia, Cedano não deixou no entanto de enfatizar os progressos do movimento de esquerda colombiana (que governa a capital, Bogotá); e do movimento popular e do movimento sindical que reforçam a unidade para resistir «ao medo e ao terror». «Não ficamos quietos nem calados a ver o país transformar-se numa base militar dos EUA», garantiu, sublinhando que «a situação é difícil, mas como disse Agostinho Neto, será longa a luta mas a vitória será nossa».
De Cuba chegou a denúncia e o desmascaramento da política de Obama, que ao contrário da propaganda oficial não só não aliviou o bloqueio à ilha como «aumentou as multas aos bancos que negoceiam com Cuba». Segundo Lázaro Mujica, os cubanos não «esperam nada dos EUA», mas contam com a solidariedade internacional, em particular para que se faça justiça com os «cinco prisioneiros do império». Os processos de quatro deles vão ser reavaliados nos próximos dias, mas «o Gerardo, condenado a duas prisões perpétuas, ficou de fora». Mais do que nunca, lembrou, importa agora conjugar forças para libertar os patriotas cubanos.
As boas notícias chegaram pela voz de Leonel Búcaro, de El Salvador. Numa intervenção emotiva, o representante da Farabundo Marti falou da vitória alcançada em 15 de Março e anunciou que no país se está a «construir a revolução popular», apesar de o imperialismo os continuar a «golpear, bem como a toda a América Latina», como provam as «ameaças à Venezuela ou o golpe nas Honduras». Neste país – disse – o «plano é que Zelaya regresse poucos dias antes das eleições para as legitimar», como se nada se tivesse passado. Lembrando que o «imperialismo não dorme», Búcaro deixou a certeza de que a «América Latina está em luta».
Um Partido solidário
João Ferreira, que recentemente esteve nas Honduras numa missão de solidariedade em nome do PCP e do grupo da Esquerda Unitária no Parlamento Europeu, deu testemunho da sua viagem, sublinhando que a situação naquele país é «um sinal do turbilhão que percorre o continente latino-americano», mas também que o futuro «depende da capacidade de resposta da resistência nas Honduras e da solidariedade internacional». Apesar da repressão, disse, a resistência «continua a manifestar-se nas ruas todos os dias, das 9h às 14h, revelando uma capacidade que surpreende».
Coube a Manuela Bernardino contextualizar os processos de transformação em curso na América Latina, os interesses em jogo, os perigos e ameaças que se adensam com o aprofundar da crise permanente do imperialismo, e as esperanças que se abrem com o ascenso da luta dos povos. Uma luta que conta e sempre contará com a solidariedade activa dos comunistas portugueses e do seu Partido.
A iniciativa, que para além da Colômbia contou com a participação de representantes do Brasil (Nilmario Miranda, do PT), Cuba (Lázaro Mujica, do Partido Comunista de Cuba) e El Salvador (Leonel Búcaro, da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional), bem como de Manuela Bernardino e João Ferreira (PCP), era aguardada com natural expectativa dada a conturbada situação que se vive na região.
O golpe de Estado nas Honduras, a vitória da Farabundo Marti em El Savador, as posições nem sempre claras do governo Lula no Brasil, as bases militares norte-americanas na Colômbia e o sempre presente bloqueio a Cuba e à sua revolução, a par da campanha solidária para a libertação dos cinco patriotas cubanos presos nos EUA, justificavam o interesse e davam pano para mangas. O tempo foi escasso, como sempre, mas ainda assim deu para aprofundar o conhecimento da realidade latino-americana e pode dizer-se, sem medo de errar, que se falou mais ali do que se passa no sub-continente do que em todo um ano de «notícias» nos média dominantes.
A parte mais difícil esteve reservada ao brasileiro Nilmario Miranda, que apesar de ter referido os avanços do governo Lula no aprofundamento dos processos de transformação social em curso no Brasil; a cada vez maior ligação com a América Latina, designadamente com a participação na UNASUL (bloco económico, político, cultural e de defesa); e a luta contra o neoliberalismo – que segundo disse «cada um trava à sua maneira» –, não deixou de ser confrontado com perguntas sobre as hesitações e mesmo contradições de Lula tanto a nível da política interna como externa do Brasil.
A complexidade dos processos e a valorização das políticas sociais, invocadas por Miranda, podem não ter convencido os que gostariam de ver o Brasil «mais longe do império», mas há que convir que nada do que se passa no outro lado do Atlântico pode ser abordado de forma linear ou numa perspectiva a preto e branco. Que o digam os camaradas da Colômbia, a braços com o «governo mafioso de Uribe», como lhe chamou Jaime Cedano, que não duvida em dizer que o governo do seu país «representa a 5.ª coluna dos EUA na América Latina».
Denunciando as provocações de Uribe contra a Venezuela e o Equador, a política de terror que se traduz em milhares de mortos e desaparecidos, a ameaça acrescida que representa a instalação de mais sete bases militares norte-americanas na Colômbia, Cedano não deixou no entanto de enfatizar os progressos do movimento de esquerda colombiana (que governa a capital, Bogotá); e do movimento popular e do movimento sindical que reforçam a unidade para resistir «ao medo e ao terror». «Não ficamos quietos nem calados a ver o país transformar-se numa base militar dos EUA», garantiu, sublinhando que «a situação é difícil, mas como disse Agostinho Neto, será longa a luta mas a vitória será nossa».
De Cuba chegou a denúncia e o desmascaramento da política de Obama, que ao contrário da propaganda oficial não só não aliviou o bloqueio à ilha como «aumentou as multas aos bancos que negoceiam com Cuba». Segundo Lázaro Mujica, os cubanos não «esperam nada dos EUA», mas contam com a solidariedade internacional, em particular para que se faça justiça com os «cinco prisioneiros do império». Os processos de quatro deles vão ser reavaliados nos próximos dias, mas «o Gerardo, condenado a duas prisões perpétuas, ficou de fora». Mais do que nunca, lembrou, importa agora conjugar forças para libertar os patriotas cubanos.
As boas notícias chegaram pela voz de Leonel Búcaro, de El Salvador. Numa intervenção emotiva, o representante da Farabundo Marti falou da vitória alcançada em 15 de Março e anunciou que no país se está a «construir a revolução popular», apesar de o imperialismo os continuar a «golpear, bem como a toda a América Latina», como provam as «ameaças à Venezuela ou o golpe nas Honduras». Neste país – disse – o «plano é que Zelaya regresse poucos dias antes das eleições para as legitimar», como se nada se tivesse passado. Lembrando que o «imperialismo não dorme», Búcaro deixou a certeza de que a «América Latina está em luta».
Um Partido solidário
João Ferreira, que recentemente esteve nas Honduras numa missão de solidariedade em nome do PCP e do grupo da Esquerda Unitária no Parlamento Europeu, deu testemunho da sua viagem, sublinhando que a situação naquele país é «um sinal do turbilhão que percorre o continente latino-americano», mas também que o futuro «depende da capacidade de resposta da resistência nas Honduras e da solidariedade internacional». Apesar da repressão, disse, a resistência «continua a manifestar-se nas ruas todos os dias, das 9h às 14h, revelando uma capacidade que surpreende».
Coube a Manuela Bernardino contextualizar os processos de transformação em curso na América Latina, os interesses em jogo, os perigos e ameaças que se adensam com o aprofundar da crise permanente do imperialismo, e as esperanças que se abrem com o ascenso da luta dos povos. Uma luta que conta e sempre contará com a solidariedade activa dos comunistas portugueses e do seu Partido.